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Portugal precisa de mais vozes — e menos ruído digital

Quantas vezes já te calaste por cansaço? Por sentires que ninguém te ouve ou que o que tens para dizer se perde num mar de gritos? Ultimamente, tenho observado algo preocupante: enquanto muitas vozes conscientes optam pelo silêncio, o espaço digital vai sendo tomado por discursos cada vez mais ruidosos — e perigosos.

 

Vivemos num tempo em que comunicar é fácil, mas escutar é raro. Opinar é instantâneo, pensar exige pausa. O espaço público está a ser ocupado por figuras que usam a polémica como estratégia. E os algoritmos alimentam esse fogo — quanto mais barulho, mais alcance. Quanto mais agressividade, mais partilhas.


Isto não é apenas incómodo. É perigoso. Muitos destes discursos assentam em ideias misóginas, simplistas e preconceituosas. Mas aparecem embrulhados como “opiniões legítimas” ou “liberdade de expressão”. Na verdade, são ataques disfarçados de liberdade. E têm palco porque quem os promove sabe jogar o jogo da visibilidade.


2 - Instagram, comunicar, escutar, discursos ruidosos, polémica como estratégia, ideias misóginas, liberdade de expressão

Ao mesmo tempo, quem poderia contrabalançar este ruído escolhe, muitas vezes, calar-se. Por pudor, por medo, ou por exaustão. Porque não quer entrar na luta de egos. Porque receia ser confundido com quem grita. Ou porque não quer expor a sua vulnerabilidade ao julgamento constante das redes.

 

E eu compreendo. Também já hesitei. Já me perguntei se valeria a pena. Se a minha voz, mais serena e reflexiva, teria espaço num mundo que premeia o escândalo. Mas cheguei a uma conclusão clara: neste contexto, o silêncio já não é neutro.


Se quem tem consciência e sensibilidade se cala, o espaço é ocupado por quem não tem. O digital não espera. Ou ocupamos o nosso lugar com presença, ou o perdemos com a nossa ausência.


Não se trata de gritar mais alto. Trata-se de propor outro tom. Outro tipo de presença. Uma comunicação que não quer apenas reagir, mas criar. Que não destrói, constrói. Que não serve o ego, mas a consciência coletiva.


3 - Instagram, luta de egos, ataques disfarçados de liberdade, violência de género, vulnerabilidade, gritar mais alto, digital

É aqui que entra a comunicação com consciência. Aquela que nasce de dentro, com intenção. Que não se limita a “dizer o que se pensa”, mas cuida do como, do porquê e do para quem. Uma forma de estar que respeita o silêncio, mas não se refugia nele. Que escolhe as palavras com propósito, porque sabe que cada palavra tem peso e impacto.


Há pessoas que têm muito para dizer. Gente com ideias, com histórias, com valores. Mas que se escondem por medo. Medo de não serem levadas a sério. De parecerem “demasiado”. Medo de serem atacadas. Medo de errar o tom. Medo do julgamento.


Mas hoje, mais do que nunca, acredito que falar com consciência é um ato de resistência. É político, mesmo quando não parece. É urgente, mesmo quando é subtil. Porque o mundo precisa de referências diferentes — não perfeitas, mas verdadeiras.


4 - Instagram, comunicação com consciência, ato de resistência, competir com o ruído, mundo dominado por cliques, contribuir para uma mudança

Não precisamos de competir com o ruído. Precisamos de sintonizar outra frequência.


Falar com mais verdade. Com mais empatia. Com mais presença.

Fazer perguntas, em vez de impor certezas.

Abrir espaços de escuta, em vez de disputar atenção.


Porque há muitas formas de comunicar. E há muitas formas de contribuir para uma mudança — mesmo num mundo dominado por cliques. Podemos partilhar experiências reais, sem fórmulas. Podemos usar a nossa voz para dar lugar à dúvida, à nuance, à humanidade. Podemos construir pontes onde outros erguem muros.

 

Há momentos em que vai ser desconfortável. Vai haver dias em que a nossa voz treme. Em que nos falta coragem, ou clareza. Mas mesmo assim, vale a pena falar.


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Porque do outro lado, há alguém que precisa de ouvir.

Alguém que talvez esteja em silêncio pelas mesmas razões.

E que, ao escutar, encontre a coragem para também se expressar.


Portugal não precisa de mais volume. Precisa de mais presença.

De mais vozes que comuniquem com verdade, cuidado e intenção.

Vozes que não querem likes — querem deixar marca.


O ruído vai continuar. Mas cada voz consciente que se levanta muda o tom.

E, devagar, muda o mundo.

 

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