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Entre o soltar e o renascer: a sabedoria de outubro

Outubro chega devagar, como um mestre silencioso. É um mês em que a própria natureza se torna guia e nos oferece lições sem palavras. As árvores, sábias na sua simplicidade, sabem que não vale a pena resistir quando as folhas começam a desprender-se. Não há luta, não há drama. Há apenas entrega. O vento sopra, as cores transformam-se, e aquilo que já cumpriu o seu ciclo regressa à terra.


Se reparares, não há pressa no processo. Cada folha cai no tempo certo, como se houvesse um ritmo maior, invisível, a guiar tudo. É uma dança entre o deixar ir e o abrir espaço. É o corpo da natureza a recordar-nos que a abundância não está em se apegar, mas no verdadeiro fluxo da vida – aquele que flui e segue o seu curso.


1 - Outubro chega devagar, como um mestre silencioso, entrega, já cumpriu o seu ciclo, abundância, fluxo da vida

 

O convite de outubro


Na nossa vida, outubro traz esse mesmo convite: observar o que já não faz sentido carregar. Talvez sejam velhos hábitos que te mantêm presa a uma versão tua que já não existe. Talvez sejam projetos que perderam o brilho inicial e agora só representam peso na tua vida. Ou até crenças que te sussurram dúvidas e medos que já não refletem a tua verdade atual.


Libertar-te disso não é sinónimo de fracasso. É maturidade. É olhar para algo com gratidão pelo que representou e, ao mesmo tempo, ter a coragem de dizer: “Já cumpriu o seu papel. Agora deixo ir. Liberto-me.” É uma escolha de confiar que, ao libertar espaço, a vida traz novas oportunidades, relações e experiências mais alinhadas com quem tu és hoje.


O peso invisível do que acumulamos


Muitas vezes, carregamos demasiado sem nos apercebermos. São responsabilidades que aceitamos sem questionar, compromissos que já não nos nutrem, expetativas que pertencem mais aos outros do que a nós mesmos. Tudo isso cria um peso invisível. E esse peso manifesta-se em cansaço, falta de clareza, e até na sensação de que, por mais que te esforces, não estás realmente a avançar.


É como uma árvore que insiste em reter as folhas secas: por mais que se agarre a elas, isso não impede o inverno de chegar, nem o ciclo da vida de se renovar. Apenas atrasa o inevitável e acaba por gastar a sua energia sem necessidade.


2 - Observar o que já não faz sentido carregar, velhos hábitos, crenças, padrões, maturidade, novas oportunidades, relações e experiências

 

Outubro é uma ponte entre o visível e o invisível


Há algo de especial neste mês. Outubro é como uma ponte entre a intensidade do verão e a introspeção profunda do inverno. É um momento de transição, um espaço onde somos convidados a fazer uma pausa, rever o plano e reformular o guião.


É o momento de olhar para trás com gratidão, reconhecendo tudo o que foi vivido desde o início do ano. As conquistas, os desafios, os ensinamentos... E, ao mesmo tempo, é hora de olhar para a frente com mais clareza, semeando intenções que queremos ver florescer depois de tudo o que aprendemos e interiorizámos. Não é um mês para grandes correrias. É um mês para encontrar o nosso equilíbrio interno, para escolher, para definir estratégias mais alinhadas com o nosso ser.


O silêncio que ensina


Se prestares atenção, outubro tem um som diferente. Já não é o frenesim vibrante dos meses quentes, nem ainda o recolhimento profundo do inverno. É um meio-termo que nos ensina a importância do silêncio, da pausa, da contemplação. Talvez seja por isso que tantos de nós sentimos, nesta altura, uma vontade maior de organizar, limpar, simplificar. É o eco da natureza dentro de nós, a exigir ordem, mas também clareza.


Quando aceitamos este convite, percebemos que não se trata apenas de deixar ir coisas que nos rodeiam. Trata-se também de soltar o que reside dentro de nós: pensamentos que se repetem em loop, padrões emocionais que já não nos protegem, histórias antigas que já não contam quem somos.


3 - Carregamos demasiado sem nos apercebermos, responsabilidades, compromissos, expetativas, peso invisível, introspeção, movimento consciente

 

Deixar ir com consciência


Soltar não é tomar decisões de forma brusca. É fazer um movimento consciente. É nesse processo que encontramos mais maturidade. Ao contrário do que muitas vezes pensamos, não precisamos de acumular o que quer que seja para provar que somos abundantes. A verdadeira abundância está no espaço, na leveza e na confiança de que o novo brotará a partir de nós.


Por isso, quero deixar-te um exercício simples, mas poderoso, para este mês:


  1. Escreve três coisas que queres deixar ir em outubro. Podem ser padrões de comportamento, tarefas que já não acrescentam nada, ou pensamentos limitadores que só te prendem.

  2. Depois, escreve três coisas que queres cultivar até ao final do ano. Podem ser hábitos saudáveis, projetos que desejas nutrir, ou até qualidades internas que queres fortalecer.

  3. Guarda essa lista num local especial. Sempre que sentires que estás a perder o foco, lê-a novamente. Recorda-te das escolhas que fizeste e do caminho que decidiste seguir.


É impressionante como algo tão simples pode trazer tanta clareza e direcionar a tua energia para o essencial.


4 - Viver em harmonia com o ritmo da vida, estabelecer prioridades, agradecer, confiar, acreditar, ter fé e esperança, aprendemos sempre

 

Viver em harmonia com o ritmo da vida não é resistir


Se alguém me tivesse dito há alguns anos que eu aprenderia a apreciar este processo de libertar e deixar ir, eu teria duvidado. Sempre gostei de começar coisas, de acumular ideias e projetos que muitas vezes nem saíam do papel. Mas descobri, através da minha própria experiência, que não é possível avançar de forma consciente quando carregamos demasiado.


Outubro tornou-se, para mim, um mês que simboliza balanço e coragem. Um mês que me permite revisitar as minhas prioridades, de agradecer o que já fez parte e de libertar espaço para o que ainda aí vem. É desafiante, mas também profundamente libertador. É fluir. É confiar que, quando deixamos ir o que já não faz sentido, abrimos espaço para tudo o que tem de chegar. É constatar que o que merecemos receber encontrará o seu caminho até nós.


E todos os anos, quando vejo as folhas caírem, lembro-me: nada do que deixamos ir se perde. Transforma-se, volta de outra forma, prepara terreno para o novo. Aprendemos sempre, sempre, sempre… E tu? O que vais deixar ir neste mês de outubro?

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